Uma cooperativa de vinícolas está levando o conceito de sustentabilidade a um novo patamar, trabalhando o armazenamento de CO2 no terreno do próprio vinhedo.
Primeiro é importante entender os principais fatores que acarretam as atuais mudanças climáticas no nosso planeta terra.
Efeito “serra” causado pela emissão gases é o principal causador das mudanças climáticas. Alguns destes gases emitidos atuam bloqueando parte do calor do sol, impedindo-o de se dissipar no espaço e incrementando o aquecimento global. Alguns destes efeitos “serra” ocorrem naturalmente, mas as atividades dos humanos na terra aumentam a concentração de alguns destes gases, em particular: CO2 (gás carbônico), metano, óxido nitroso, gases fluorados.
O grande “vilão” é o CO2, em 2020 a sua concentração na atmosfera era 48% maior desde a era pré-industrial (antes de 1750). Mas o que aumenta a emissão do CO2?
– Queima da carvão, petróleo e gás – ou seja a indústria de produção destes produtos;
– Desflorestamento;
– Incremento de fazendas bovinas e caprinas que produzem metano quando digerem o seu alimento;
– Fertilizantes contendo nitrogênio;
Então, seguindo este raciocínio, é possível às vinícolas dar alguma contribuição para reduzir seu impacto no clima? Sim, e pode ser feita com o implemento de soluções técnicas já existentes. Uma cooperativa de vinícolas Italianas já está fazendo isto, e definiram a técnica como “sequestro de CO2” que corresponde a devolver o gás para o solo, evitando assim sua emissão na atmosfera terrestre.
A proposta emerge em uma conferência organizada pela Cantina Vitevis, uma cooperativa de 1.350 vinícolas membro da região do Veneto, que produzem cerca de 50.000 toneladas de uvas e 12 milhões de garrafas anualmente. Estamos falando aproximadamente de 2.800 hectares de terra cultivada, que para um país como a Itália, são realmente muitos hectares.
Esta cooperativa junta, decidiu se concentrar em melhorar a sustentabilidade do meio ambiente, e preservar seu território (um conceito muito forte e presente na indústria vitivinícola Italiano).
E então quais são os planos?
1o – entender o vinhedo; todos os vinhedos e registros foram computadorizados, registrando todas as atividades no vinhedo através de um sistema de satélites, otimizando a irrigação e o processo de fertilizantes. Outro fator, foi que desta forma puderam ter um diagnóstico do consumo de energia, reduzindo o mesmo e implementando painéis fotovoltaicos;
2o – este estudo motivou a criação do Certificado Equalitas, que conseguiu estabelecer um padrão de referencia que funciona como guia na quantificação, monitoramento e avaliação de emissão de gases com efeito “serra”e processos de melhoria para as vinícolas.
E os resultados obtidos?
Basicamente, e talvez simplesmente, este estudo levantou a questão da necessidade das vinícolas de redefinir seus processos de gerenciamento dos seus vinhedos a partir destes padrões de referência, medindo a quantidade de CO2 que produziam e que sequestram no solo.
Através de dados numéricos entenderam que através do trabalho consciente de gerenciamento do vinhedo, é possível obter resultados mais relevantes, do que somente utilizando materiais eco-sustentáveis como por exemplo garrafas de vidro mais leve.
Mas, na prática, qual seriam estes processos mágicos que resultam no sequestro de CO2 no solo?
– Redução na intervenção no vinhedo, diminuindo o uso de maquinário como tratores
– Arar o solo minimamente ou nem mesmo arar; esta técnica evita a emissão de CO2 armazenada no solo
– Uso de fertilizantes orgânicos
– Semear grama entre as fileiras dos vinhedos e/ou utilizar ervas medicinais que incrementam a vitalidade do terreno e, assim, evitam a emissão de CO2 pelo solo
– Utilizar os resíduos da poda no próprio solo (compostagem), que ajuda também no controle de aá no mesmo (problema que se agrava a cada ano, a escassez de água)
Na prática, estas técnicas reduzem a intervenção humana no terreno e no vinhedo trazendo como beneficio a redução de emissão de CO2 na atmosfera, bem como reduzindo os custos de manutenção do vinhedo.
Quando a planta entra em equilíbrio com o solo, a produção do vinhedo torna-se mais natural. A habilidade de armazenar CO2 no solo está mais relacionada à uma mudança de mentalidade do que mudança técnica em si.
Moral da história: Fazer melhor no vinhedo e reduzir a emissão de CO2 é intervir menos.
Minha matéria em colaboração com a revista Wine Not? Link: https://www.winenot.com.br/colunas/bella-italia/
Junho 2023